Alguns autores costumam colocar a questão do assédio moral como
essencialmente individual, uma perversão do “ego” que dá no
âmbito estritamente psicopatológico, em que se dá um silencioso
assassinato psíquico. A par disso existe outra concepção, geradas
no caldo do modo de regulação social e na lógica
econômico-instrumental. No Brasil, ainda colônia, índios, negros
foram sistematicamente assediados, melhor dizendo, humilhados pelos
colonizadores, os “senhores barões do café”.
Essa prática de se colocar como superior prevalece até os dias de hoje, mas agora de outra forma, onde a autoridade de superioridade de assediar o outro vem do cargo que a pessoa pensa que ocupa, dos “mais fortes” sobre os “mais fracos”. O primeiro, o “chefe”, patrão, dono. O segundo, do subordinado, do empregado, do trabalhador. Muitos casos, o assediador comete tal atitude “involuntariamente” devido ao relacionamento do dia-a-dia com o subordinado.
Imagem disponível em: <http://www.assediomoral.ufsc.br/?page_id=430>
O assédio moral pode durar meses e até anos. As principais causas e
ou características está na temporalidade. A pessoa que assedia sabe
que está humilhando e deseja fazer isto, é a sua intencionalidade
em humilhar o outro. Sem trocadilho, é uma intencionalidade
mal intencionada. Não é qualquer pessoa que é assediada, é sim
um, especialmente humilhado e de preferência na frente dos demais, e
estes outros assistem sem fazer nada por conivência ou não. É a
direcionalidade da ação que geralmente ocorre por diversos
meses e até várias vezes durante o mesmo dia. O assédio moral se
dá nas condutas abusivas e na frequência cometida. Outra
característica dessa forma de assédio pode ser encontrada também
na violência.
Esses agressores geralmente possuem traços narcisistas e
destrutivos, estão frequentemente inseguros quanto à sua
competência profissional e podem exibir, às vezes, fortes
características de personalidade paranoica, ou seja, aquilo que não
conseguem aceitar em si mesmos. Embora seus agressores tentem
desqualifica-las, normalmente as vítimas não são doentes ou
frágeis. São pessoas com personalidade, transparentes e sinceras,
que se posicionam e algumas vezes questionando privilégios e não
tem grande talento para o fingimento. Essas pessoas tornam-se alvos
das agressões, justamente por não se curvarem à “autoridade”
de um superior sem questionamentos acerca de suas determinações.
O assédio moral quando a vítima é o homem, torna-se mais grave,
pois os homens demoram mais tempo para procurar ajuda médica ou
psicológica. A situação é mais delicada no homem, pois “fere
sua identidade masculina”. Não raro, quando a vítima, o homem, se
apercebe da situação, o fenômeno destrutivo já se estabeleceu, o
que o leva ao processo destrutivo, não encontrando mais forças para
reagir. Essa passividade, dentro da cultura machista e
preconceituosa, pode levar o homem ao “fundo do poço”, causando
diversos sintomas, desde úlceras, eternas cefaleias, disfunções
sexuais e em alguns casos até o suicídio.
Como solução, uma das únicas saídas está na organização do
coletivo, de solidarizarmos com as vítimas do assédio moral e
buscar respaldo na justiça, este último por inteligência. De fato,
em uma sociedade fraternal, o assédio moral simplesmente não
existiria, ou se restringiria às patologias individuais. Mas
enquanto vivemos em uma sociedade que valoriza muito mais a
capacidade de competir e vencer do que o altruísmo e a generosidade,
com certeza esse tipo de coação continuará acontecendo.